Os urocordados (Urochordata) ou tunicados (Tunicata) são animais pertencentes ao subfilo Tunicata, enquadrado dentro do filo dos cordados (Chordata), fazendo parte dos vertebrados, estes a sua vez situados no superfilo dos deuterostomos. Compreendem cerca de 3090 espécies, todas marinhas, e com diferentes tipos de mobilidade: bentônicas, planctônicas, solitárias ou coloniais.[8]
Recebem o nome de tunicados porque a parede do corpo segrega uma túnica constituída por uma substância celulósica chamada tunicina; as larvas apresentam notocorda na região caudal. O corpo está dividido em tórax e abdómen (às vezes prolongado num pos-abdómen); no tórax localiza-se a faringe que funciona como elemento para captura de alimento e respiração (esta última também ocorre nas paredes da cavidade atrial que recobre dita faringe). O sistema digestivo nasce numa boca que comunica com a faringe perfurada por um número variável de fendas branquiais; na região anatomicamente ventral do animal encontra-se o endóstilo, constituído por um sulco provido de células ciliadas e mucosas que segregam uma substância mucilaginosa. Os nutrientes aglutinados pelo mucílago são conduzidos pelo movimento de uns flagelos durante todo o trajeto pelo aparelho digestivo.
O sistema nervoso dos tunicados está muito reduzido, e isto reflete um ciclo de vida relativamente inativo.[9] Possuem um pequeno gânglio cerebroide acima da extremidade anterior da faringe e do qual derivam alguns nervos que se dirigem para os músculos do resto do corpo. No estado larval, os tunicados apresentam um cordão nervoso dorsal bem desenvolvido, o qual se perde quando chegam a seu estado adulto, e em general os receptores sensoriais estão pouco desenvolvidos neste grupo de animais.
Seu sistema circulatório está pouco desenvolvido, o qual está conformado por um coração tubular que realiza seus batimentos de forma peristáltica, e do qual saem dois vasos sanguíneos: um para a parte anterior e outro para a posterior. Estes copos desembocam em espaços ao redor dos órgãos internos para irriga-los (estes também irrigam a túnica).[9] O intercâmbio gasoso produz-se por difusão simples nas paredes do corpo, em especial nas mucosas da faringe e do átrio.[9] Ainda que a fisiologia respiratória destes animais está pouco estudada.
Relativo ao suporte e locomoção destes animais, possuem uma túnica conformada por uma secreção do epitélio externo que pode variar em espessura e consistência.[9] Esta túnica pode considerar-se o exoesqueleto do animal, que possui alguns tipos celulares (amebócitos e células sanguíneas) e inclusive pode chegar a possuir vasos sanguíneos.[9] Abaixo do epitélio externo destes animais encontram-se uns feixes musculares orientados em sentido longitudinal, que têm a função de retrair os sifões. Também possuem esfíncteres para o fechamento destas estruturas. Ademais, possuem uma cavidade chamada átrio ou cavidade perifaríngea, à qual desemboca o água que atravessou as fendas branquiais. Esta água depois sai pelo sifão exalante.
anatomia de um tunicado em fase larval (note a notocorda)
Os tunicados são hermafroditas. A fecundação é habitualmente externa. Os gametas expulsam-se pelo sifão exalante. Ao completar-se a fecundação forma-se um zigoto que se converte numa larva parecida a um girino.
As larvas, que são nadadoras, estão dotadas de cauda com notocorda, daí o nome de urocordados (uro = cauda). Estas larvas nadadoras são de vida pelágica até que adotam um fototropismo negativo que as fazem descer ao fundo. Então, após uma metamorfose, a cauda desaparece por reabsorção, perdem a notocorda e sofrem um inversão de 180º que faz se abrir o sifão, se reorganizar a posição das gônadas e adotar a vida adulta de forma bentônica no fundo do mar. Algumas espécies são vivíparas (os embriões desenvolvem-se numa câmara interna), este fenômeno dá-se em ascidias compostas. Além destas adaptações observou-se que estes organismos podem variar em grande parte seu ciclo de vida, um exemplo deste fenómeno seria a espécie Protostyela longicauda, na qual se produz uma larva que não possui a capacidade de nadar, ainda que se pode chegar inclusive a espécies que têm um desenvolvimento direto (isto é, que não passam por estado de larva).[9]
Nestes organismos podem-se encontrar também formas de reprodução assexual, principalmente em taliáceos e ascidias coloniais nos quais se geram gemas que podem variar muito em composição, sendo as mais simples porções das paredes do animal, e as mais complexas gemas que contêm partes de epiderme, gónadas, tubo digestivo, etc. Estas gemas são uma adaptação para cobrir o substrato próximo e assim colonizá-lo.
As ascidias (Ascidiacea) ou seringas do mar, são formas bentônicas (isto é, que crescem sobre o fundo) solitárias ou coloniais, com uma cutícula feita de polisacarídeos (um fato excepcional entre os animais), e não possuem cordão nervoso dorsal em estado adulto. Expulsam água pelo sifão quando lhes irrita. Surpree a concentração de vanadio e niobio em seu sangue.
As salpas (Thaliacea) ou tunicados pelágicos são planctónicas (vivem em suspensão), solitárias ou coloniais, neste último caso com muitos indivíduos crescendo alinhados sobre um eixo comum, têm sifões inalantes e exalantes situados em extremos opostos, os quais são usados como meio de locomoção.
As apendicularias (Appendicularia) são formas pelágicas (de águas livres) solitárias, nadadoras, que conservam na idade adulta a simetria e polaridade típicas dos cordados (Chordata), seu corpo está encerrado numa camada gelatinosa.
A classe Aspiraculata (Sorberacea) são organismos muito similares às ascidias, sendo estes bentônicas, vivem a grandes profundidades, possuem um cordão nervoso dorsal em estado adulto e são carnívoros.
Piure, um tunicado usado em pratos típicos no Chile
Alguns tipos de tunicados são consumidos como alimento; exemplo disso é o piure (Pyura chilensis), da costa do Chile; o Microcosmus sabatieri do mar Mediterraneo; o Halocynthia roretzi da costa da Coreia e Japão, ou o Styela finca da Coreia.